“All that is gone
All that's to come
And everything under the sun is in tune
But the sun is eclipsed by the moon.
"There is no dark side of the moon really.
Matter of fact it's all dark."”
Water, Roger. Eclipse in The Dark Side of The Moon, Album. Harvest Records: 1973. Band: Pink Floyd
À Barbara - Olhos de Desarme, apesar da história não ter nada haver com ela O.o.
Exemplo Didático: Aconteceu mais ou menos assim... Eu me vi nos olhos de um personagem, o Arlequim... Mas porque o Arlequim?... Porque o Arlequim é interessante e as pessoas gostam de se identificar com o incomum... Isso é porque todas as pessoas são iguais, mas este é um tema que eu pretendo desenvolver no futuro (breve)... Tem o fato de as histórias serem similares, mas explicar cientificamente não tem graça...
O Arlequim, naquela roupa de losangos vermelhos e amarelos que não seriam nem levados à sério se ele não fosse invisível cheio de magia pagã, como uma fauno ou elfo. É, a Comédia Dell Arte é mesmo interessante, às vezes interlúdio, às vezes pura piada, às vezes sinônimo de uma história circular imortal, culturalmente onipresente com personagem de motivação dúbia e incerta como ícones de criaturas e essências humanas esquecidas (droga... acho que foi muito científico).
Bem, esses dois parágrafos foram o que os professores de redação costumam chamar de “fuga total ou parcial do tema”... A banca da UFMA teria o prazer de zerar minha redação pela terceira vez consecutiva se isso fosse há alguns anos atrás, um insight (ou acesso de loucura) no dia da prova da segunda etapa ¹... Mas, bem chega de coisas reais demais e de reticências que na verdade significam 5 ou 6 parágrafos cortados que a você, leitor intrometido e voyerista, não interessarem: Eu me vi ATRAVÉS dos olhos do Arlequim.
Como na história eu seguia minha colombina dançando ao seu redor, quase sempre invisível como Arlequim, às vezes ridiculamente palhaço na roupa de losangos vermelhos e amarelos de paixão confessa. E conversávamos ardentemente sobre paixão sem que ela de fato conversasse comigo sobre o mesmo assunto (preste atenção na próxima vez que conversar com alguém, você verá que ninguém nunca está evocando a mesma coisa ao conversar sobre coisas triviais apesar de sempre termos certeza que estamos no mesmo lugar-comum da produção de conhecimento que chamamos diálogo).
Como na história, numa madrugada fria preguei, com o alfinete que comprara na Baviera séculos atrás, meu coração ensangüentado recém imolado. Como na história, segui-a enquanto lia o destino das pessoas, errando quase sempre (aposto), sempre invisível, laboratório adentro falando com os mortos no necrotério (no meu caso idéias mortas, não exatamente cadáveres como na história, mas ainda assim “mortos”).
Como na história, acompanhei-a para fora do recinto, depois de descobrir que o músculo enegrecido espetado no batente não havia sido uma brincadeira sem graça de seu antigo chefe, o médico legista. Como na história repetida muitas vezes, mas prestes a ter um final atípico, acompanhei-a até o restaurante [do chinês] [é porque as partes entre chaves são detalhes bem mais pessoais] onde a observei comer meu coração com uma fritada de batatas e um vidro de ketchup.
E ela me deixou sem entrar na minha vida, não sem antes me roubar meu chapéu, minha bengala, meus poderes e minha invisibilidade, deixando uma mensagem de silêncio ao não atender minhas ligações, dizendo que ela iria seguir como a Arlequim de sua própria Comédia Dell'arte e eu não teria mais papel nenhuma nem comédia para chamar de minha, restando-me apenas o sempre-comum e o mais-do-mesmo.
O problema não é o antigo desejo, nem os pretéritos do futuro, os “teríamos sido um casal feliz de advogados felizes sem tempo para nada”.O resultado não é a dor de cotovelo e noites sem dormir e bla bla bla. Essas coisas são balela. Besteira de filmes e da Florbela Spanca, que cicatrizam no mundo real em dois ou três dias. Concussão cerebral é que é coisa séria, essas coisas são apenas questão de cerotonina. O ruim, ruim mesmo, é não ter mais papel na peça, ou melhor, não ter mais peça, perceber que era mesmo só uma peça. Como todas as coisas necessárias aos anseios menos óbvios de todos nós (iguais-nós).
FIM (?)
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Enfim, sobra material para pseudofilosia, reflexões: ”porque escrevemos”; “porque precisamos”; “porque teimamos nestes papeis” (papéis em ambos os sentidos supracitados, repare bem). Vomitamos sentimentos, sempre, de diversas formas, e precisamos porque nossos níveis de cerotonina nunca se equilibram porque sabemos, diferente nos anfioxos e peixes dourados, que vamos morrer, mesmo que esqueçamos de cinco em cinco minutos. Este é o único motivo pelo qual não conseguimos apenas caçar, comer e dormir e continuamos criando e porquês que sé calam com outros porquês, se repetindo infinitos, inconvenientes e bem menos adequados nos textos do que recomendam os professores de redação.
Escrever é uma forma de vomitar esses sentimentos, mas acho que não devemos apenas vomitar e dar o texto como coisa findada, precisamos “ir além”. É certo que tempestades selvagens são lindas como o granizo e os milhões de anos que constroem montanhas, coisas sobre as quais não temos controle.
Esse texto é para uma menina que eu não conheço, uma tal de “Bárbara”, que anda desnudando-se em seus texto (e que lindo é o que vejo ao espiar...) como quem expões feridas viscerais só para manchar de sangue o carpete novo de quem as causou. Quero vê-la arquitetar, um dia, e conhecer de fato o seu estilo de escrita. Pensando bem, mesmo que isso não aconteça será bonito vê-la seguindo a tempestade jogando anomicamente (de “anomia” fazer o que? O.o) sal nas nuvens para aumentar a energia potencial elétrica dos raios. O passional (de paixão, minha cara, não de submisso) é muito belo ainda assim, acho que temos que arquitetar. Pegar essa matéria prima e transformar em algo diferente, uma morada, um abrigo, uma ponte, um sistema anti-terremotos, uma represa, uma empresa (veja Paulo Coelho (nojinho profundo dele, mas vá lá, é um bom exemplo)), uma sala de leitura, uma torre, um cenário antrópico mesmo.
Algo realmente sólido, factualmente uma construção, algo que faça seu nome ecoar, mesmo de forma ininteligível durante cinco mil anos, como a pirâmide do faraó obtuso que desperdiçou 60.000 mil toneladas de pedra pra-nada.Claro que se você for filósofo ou cientista acaba tendo uma utilidade prática.
Eu quero arquitetar minha própria lua mesmo que ninguém a veja ela será só minha, e será o mais belo projeto de arquitetura que meu ego já viu, e ela vai estar lá em cima e acima muito além e além (é isso é bem alto) (as above and so below), mesmo oculta, como o lado escuro da lua. Um beijo a senhorita Bárbara, um beijo para minha antiga colombina (mesmo que ele se perca no limbo dos espaços pouco visitados da internet como este) da qual repentinamente me lembrei e perfeitamente serviu para homenagear essa ilustre desconhecida, digo: será sempre boa matéria prima de escrito, assim como todas as outras.
Segredo: Você, caro leitor, deve estar se perguntando o que tudo isso sobre como escrever tem haver com a Comédia Dell Arte propriamente dita e com a “minha” Comédia Dell Arte... Bem... Nada... é só um exemplo de como pegar a escrita passional e transformar em arquitetura.
Nota1: Me exibindo - hoje a UFMA têm que me engolir!
Nota de Esclarecimento III (o retorno): Sobre os lados negros da lua http://pt.wikipedia.org/wiki/Lado_negro_da_Lua
PS: pensei em fazer “Nota de Esclarecimento IV (a missão)” e “Nota de Esclarecimento (o início)”, mas seriam muitas notas e a piada perderia a graça. PS2: Shame on me